Track&Field entrevista o Ironman Arthur Ferraz
Conversamos com o Ironman Arthur Ferraz Silva em entrevista exclusiva para o Blog da Track& Field. O atleta conquistou o campeonato mundial de aquathlon em 2008 e se destacou no Ironman Brasil em 2013. Devido a sua colocação na prova, foi classificado para disputar o Mundial no Havaí, o que o classificou entre 1% dos atletas de Ironman que conseguem cumprir a distância em menos de 9 horas.
Confira agora a entrevista exclusiva com Arthur Ferraz:
1) Conte um pouco sobre sua história de como o esporte entrou em sua vida
Uma prova de Ironman é sempre um desafio enorme, mas um campeonato mundial em Kona no Havaí consegue ser ainda maior. Os melhores atletas do mundo, sempre muito vento e um grande calor, além de um percurso desafiador no meio dos campos de lava, fazem da prova a mais dura de todo o circuito. Diante destas condições procurei fazer a minha preparação da melhor forma possível, buscando aumentar a qualidade e a intensidade dos treinos em relação ao que havia feito para a prova do Ironman Brasil. Com a preparação ocorrendo conforme o planejado cheguei pronto e confiante para o dia da prova. Minha estratégia era a de andar o tempo todo dentro de meus limites para uma prova entre 9 e 10 horas de duração, mas sempre procurando andar rápido e de forma consistente. Infelizmente não consegui ter a consistência que esperava e influenciado pelo ritmo da prova, o percurso e o calor, acabei tendo uma prova com muitos altos e baixos, o que me obrigou a me superar em todos os momentos da prova. Fiz uma natação muito boa e pedalei bem até os 90km do ciclismo, infelizmente acabei sendo penalizado em uma ultrapassagem e após cumprir a punição comecei a ter dificuldades para retomar o ritmo até o final da etapa. Durante a corrida a variação continuou, o início e o final foram muito difíceis e o meio da corrida foi muito bom, o que me causou sensações bastantes distintas. Apesar de não ficar completamente satisfeito com o tempo final fiquei feliz por correr muito bem e fácil, quando estava me sentindo bem e também muito feliz por conseguir correr em um ritmo razoável, mesmo quando estava me sentindo extremamente mal. No final, diante da dificuldade da prova e do esforço e superação que foram necessários para que, em uma prova muito difícil, eu alcançasse o tempo de 9:49hs o resultado final me deixou muito feliz.
2) Qualquer pessoa pode se tornar um atleta de elite?
Pratico o triathlon desde 2001, no começo como uma maneira de manter a forma, com o tempo o objetivo foi se tornando mais competitivo, e com a conquista de bons resultados, pódios e vitórias em competições nacionais e internacionais o triathlon passou a ser um foco em minha vida. Comecei nas provas de Ironman em 2011 e desde então meu principal objetivo tem sido conseguir a vaga e disputar o campeonato mundial no Havai. Em 2013 finalmente consegui a vaga após uma prova perfeita no Ironman Brasil, onde finalizei com 8:58hs de prova, sendo o segundo atleta amador a cruzar a linha de chegada.
3) No que você pensa quando está exausto mas ainda sim precisa de uma energia extra pra completar a prova?
Ser um atleta de elite, na verdade, exige muito mais do que uma grande capacidade física. Treinar para competir com os melhores atletas do mundo exige paciência dedicação, intensidade nos treinos, muito sofrimento, organização e até profissionalismo. Esta que parece ser a parte mais simples é o que muitas vezes impede atletas de grande talento de se tornarem grandes atletas. Para alcançar o mais alto nível é preciso que os fatores físicos, técnicos e psicológicos sejam desenvolvidos em harmonia. Entretanto, grandes desafios, como completar um Ironman, estão ao alcance de todos e só dependem da disposição, organização e dedicação de quem se propõe a fazê-lo.
4) Qual foi sua melhor prova/colocação?
Os treinos duros me preparam para condições difíceis durante a prova. Sempre procuro entrar na prova confiante, sabendo que fiz o máximo que podia para aquela prova e que tenho a capacidade de alcançar os meus objetivos. Tenho a consciência de que vou encontrar dificuldades e que elas fazem parte de toda prova, mas já largo pronto para enfrentar tudo e chegar até o final. Não podemos deixar para responder perguntas como o que estou fazendo aqui? Será que vou conseguir terminar? Porque não diminue um pouco? nos momentos difíceis de dor ou cansaço, pois tenderemos a buscar o caminho mais confortável.
5) Como é a rotina de um atleta de elite? Existe algum treinamento específico?
Embora tenha conquistado o campeonato mundial de aquathlon em 2008, acredito que minha melhor prova, em termos de desempenho e repercussão tenha sido o Ironman Brasil de 2013. Finalizei a prova com 8hs 58 minutos com a 17ª colocação geral, sendo o oitavo brasileiro a cruzar a linha. Com este resultado, além de me classificar para disputar o Mundial no Havaí, me colocou entre 1% dos atletas de Ironman que conseguem cumprir a distância em menos de 9 horas.
6) Até quando pretende competir? Existe idade específica ou fator limitador para as provas?
È difícil determinar uma idade específica até quando competir. Acredito que tudo dependa da motivação e das expectativas em relação às competições. Hoje o triathlon faz parte da minha vida, equilibro os treinos e as competições com o trabalho e acredito que enquanto puder ter prazer em competir continuarei na ativa, mesmo que as referências tenham que mudar dos primeiros lugares da prova para os primeiros entre minhas categorias de idade.
7) O que te motiva a continuar competindo?
A principal motivação tem que ser a interna, a pessoal, isto é, ter prazer de sair de casa ou do trabalho a cada dia para ir fazer o que gosto. Depender a minha motivação das conquistas ou dos resultados exclusivamente seria perder o controle sobre aquilo que me dá prazer, colocando pressão e peso sobre algo que precisa ser bom e agradável. Ser mais rápido e melhor faz muito mais parte de um referencial e de valores pessoais do que de uma simples comparação com os adversários.
8) Já pensou em desistir?
Acho que por pensar desta forma consegui estabelecer uma relação com o esporte que nunca me colocou em uma situação de pensar em desistir ou largar tudo. Muitas vezes os projetos de vida e as situações nos guiam por caminhos que nos aproximam ou nos afastam do foco no desempenho, mas quando se tem prazer em sair de casa para treinar e estar com os amigos em treinos e competições, acho que esta escolha sempre estará distante.
9) Qual seu conselho pras pessoas que querem melhorar o físico mas não conseguem atingir esse objetivo?
Praticar um esporte, mesmo que de forma competitiva tem a ver com prazer. Pode ser prazer em competir e ser o melhor e mais rápido possível. Pode ser o prazer em completar um treino muito duro e longo, ou pode ser o simples prazer em sentir o vento no rosto. Quando se parte disso tudo fica mais fácil. A partir daí é preciso paciência, objetivos e foco. No caso do Ironman, todo mundo é capaz de fazer, não amanhã, mas é possível para todos. E este é um grande exemplo para tudo, se hoje as distâncias de 3,8/180/42 parecem impossíveis, elas deixam de ser quando se pedala, 60, depois, 80, 100, 120, 140, 160, 180. Com a corrida é o mesmo, 10, 12, 15, 18, 21, 23, 25, 28, 30, 32, 35, 40, 42. Muitas vezes é preciso ter paciência e perseverança, mas quando os projetos de vida que temos são feitos com prazer e dedicação, percebemos que somos capazes de muito mais que imaginávamos.
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